terça-feira, 27 de março de 2007

O Fabuloso destino de Camille - Capítulo I

Camille veio da Itália ainda criança, aos oito anos de idade, quando seus pais decidiram tentar a vida no Brasil. Teve uma infância muito difícil, o que a fez aprender a valorizar as oportunidades e as coisas que tem. Sempre fora boa aluna, geralmente a melhor da classe, os professores admiravam sua determinação nos estudos, mas os colegas nunca deram muita importância para ela, aliás, sua presença raramente era notada. Definitivamente, autoconfiança não era uma virtude para nossa amiga, ninguém sabe ao certo o que a levou a se tornar tão isolada e reprimida, mas é fato que andar sempre olhando para o chão dificultava repararem seus lindos olhos azuis. Ela era aquele tipo de pessoa com certa beleza exótica, você vê e acha bonita, mas sabe que nunca estrelaria uma novela da Globo.

Estar sempre longe do centro das atenções fez com que Camille criasse um olhar especial, demasiado observador das minúcias comportamentais. Assim, mesmo que crescera isolada, com poucos relacionamentos, ainda entendia muito sobre eles. Como aquele cara que nunca jogou futebol, mas aprendeu todo o esquema tático, só de prestar atenção, e daria um bom técnico!

Nossa ítalo-brasileira tem 18 anos de idade, e cursa o primeiro de ciências contábeis na universidade federal. Divide apartamento com uma garota quatro anos mais velha, chamada Alice, que é completamente o seu oposto. Desinibida, extravagante, sempre “causando” por aí. Alice cursa o 3º ano de comércio exterior, e é vista por muitos como superficial, e por muitos mais como uma “loira gostosona” que preza pela aparência acima de tudo. Já namorou diversos caras, sempre estúpidos desmiolados, mas com popularidade no seu círculo social, ou de família influente. O que todos sempre tiveram em comum, além do túnel de vento de uma orelha à outra, é uma lista de amigos no Orkut passando dos 990. Alice nunca soube o que é o amor, sempre atirou nos alvos errados, mas dessa vez ela se superou. Seu namorado é um jogador de futebol do time da cidade, que além de lhe trair frequentemente em festas regadas a absinto e cocaína, volta para casa muito louco e comete atos que a submetem a humilhações horrendas, entre quatro paredes. Como força-la a fazer sexo quando não quer e até mesmo faze-la engolir sua urina, contra a sua vontade.

Apesar de Camille falar muito pouco com Alice, que não para em casa, tem um carinho especial pela amiga, fruto da admiração de tudo aquilo que desejava ser e não é, presente na companheira. Com seu olhar observador sempre repara nas coisas que a amiga tenta lhe esconder, desconfia, e cria suposições, que geralmente estão certas.

Era madrugada de sexta para sábado, chovia forte, as gotas batiam violentamente na janela do apartamento fazendo um barulho muito chato, que impedia Camille de se concentrar nas leituras de algumas vertentes teóricas da economia moderna. Ela se levanta e vai ao espelho do banheiro lavar o rosto, nota que suas olheiras estão voltando, como tinha há uns 2 anos atrás, resultado da insônia que tem desde criança. Nessas horas de solidão, durante o calar da madrugada, Camille costuma refletir sobre a vida, suas possíveis escolhas, promete a si mesma ser uma pessoa mais confiante quando o dia amanhecer, mas costumeiramente não cumpre as promessas que faz a si mesma.

Ela prepara uma xícara de chá e se senta na poltrona ao lado da janela, com a cabeça encostada na parede observa a chuva cair, quando para um carro em frente ao prédio. Seu apartamento é no segundo andar, então ela identifica facilmente ser o carro do namorado de Alice. Ali, após poucos minutos, Alice é jogada para fora do carro, literalmente. Fica caída ao asfalto por um instante, enquanto o carro arranca em disparada, então ela levanta-se com dificuldade e caminha até a escadaria da entrada do prédio, onde senta num degrau e permanece chorando. O silêncio da madrugada só é quebrado pela chuva forte e seu pranto de dor e solidão.

Camille, que até então nunca interferia em problemas alheios, resolve descer e ajudar à amiga. Com sua camisola azul clara e uma caneta na cabeça servindo como prendedor dos cabelos desce as escadas rapidamente e vai até a porta de entrada do condomínio. Os olhos de Alice estão voltados para o chão, ela não quer olhar nos olhos da amiga, que lentamente se aproxima, sem dizer uma palavra, senta-se à sua frente, segura sua mão enquanto a olha com uma expressão serena, permanecendo em silêncio invés de dizer palavras de conforto ou demonstrar aflição diante da situação. Quando Alice então a encara nos olhos, Camille nota que provavelmente ela apanhou muito do namorado, seus olhos estão inchados e roxos, o nariz ainda sangra um pouco, bem como a boca. Porém Camille, ainda com a expressão serena, abre um leve sorriso e diz:

_Você está linda.

Estas palavras soam profundamente estranhas para Alice neste momento, que fica sem reação, até mesmo o choro é interrompido e substituído por uma expressão de espanto.

Então Camille aproxima seu rosto ao de Alice, parando na metade do caminho. Alice fica pasma nesse instante, e quando sua respiração volta Camille a beija suavemente, seus lábios mal chegam a encostarem-se aos da amiga. Elas se olham novamente, agora ambas com expressão de paz, e ficam ali, compartilhando beijos passionais e demorados, como pólos opostos tentando ser um só. Finalmente Alice conheceu o amor.

3 comentários:

Élinton disse...

Bixo, já falei... mt boa essa história..
espero o cap. II com ansiedade ;)

Unknown disse...

de onde tu tira issu?
caga e escreve ao mesmo tempo?
pq tu passa o tempo todo fazendo cocô

mas gostei!

Ariane disse...

Na faculdade te falo o que achei.